Convidamos três cronistas da gastronomia para nos contarem qual é seu prato favorito da cozinha chilena, e com qual vinho elas o harmonizam. As respostas nos mostram uma gastronomia diversa que vai muito além daquilo que conhecemos normalmente.
Loreto Gatica: sopa de carne de porco com chuchoca
A jornalista da área de gastronomia Loreto Gatica, uma das apresentadoras do programa Lujuria Gastronómica, da rádio Oasis FM, e cronista do suplemento Finde, do jornal La Tercera, reconhece que é fanática pelas leguminosas e pela carne de porco. “Sob todas as formas”, ela precisa. E em seguida confessa: “A sopa de carne de porco com chuchoca (milho moído, cozido e secado sob o sol) é um daqueles pratos que a gente não encontra mais e que quando provo… quase morro! A última vez que provei foi em abril. Quem preparou foi Sergio Vásquez, cozinheiro do Maule e um dos organizadores da Fiesta Costumbrista del Chancho Muerto (Festa Tradicional do Porco Morto), na cidade de Talca. Eu e outras cronistas fomos provar restaurantes e ele nos esperou com algumas panelas ainda no fogo. O porco com chuchoca nos fez aplaudir”, conta Loreto.
Em que consiste esse prato? É um caldo à base de carne de porco aromatizado com cebola, alho-poró, aipo e alho, que tem também cenoura, pimentão, batata, abóbora e o ingrediente que faz toda a diferença: a chuchoca.
“É feito com o coxão mole do porco, bem macio, então é impossível ficar mais saborosa. Eu gosto porque grita ‘Chile’, em uma panela de barro que rende bastante, com o clássico tempero à base de um coentrinho fresco, orégano, cominho e dente de alho. É um caldo denso, onde para mim o caldo e a carne de porco se amam. Além disso, a chuchoca dá esse ar de caseiro, de sabor antigo. A graça do porquinho é que mostra gratidão, não briga com o vinho, não conhece muito a etiqueta, então se deixa querer e facilita as coisas pra você. Pode ser com um vinho pipeño, com chicha (bebida fermentada de uva), ou com um Pinot Noir ou Syrah. Qualquer vinho do vale do Maule também cai bem”, termina Loreto.
Para seguir a recomendação dela, convidamos você a provar o Marques de Casa Concha Merlot, proveniente do vale do Maule. É um vinho com uma nota a torrado elegante e agradável, de taninos elegantes e grande expressão frutada.
Para encontrar mais dicas como estas, você pode seguir Loreto Gatica na conta do Instagram @gaticalomegusta.
Isidora Díaz: pequenes
Isidora Díaz é cozinheira, crítica de gastronomia, coautora do livro Todo a la parrilla e diretora da revista Fondo. Sua expertise é sem dúvida tudo o que está relacionado com a cozinha chilena, a churrasqueira e, com certeza, sua insubstituível pena. E apesar de ter muitos pratos favoritos, confessa: “ultimamente ando viciada nos pequenes. São como as empanadas de pino, mas recheadas só com cebola, sem carne. São mais leves que as empanadas tradicionais –ideais para aperitivo–, mais baratas e mais fáceis de cozinhar. Minha versão favorita inclui a receita de massa da minha avó –bem amanteigada–, e um recheio de cebola bem temperado com cominho e páprica, sempre com um toque picante”, conta Isidora.
Acrescenta: “Adoro os pequenes com um Merlot básico, que resista o embate dos condimentos, mas que acompanhe com sutileza, sem nunca roubar a cena.” É o caso do Casillero del Diablo Merlot, um vinho leve, de pouca adstringência com aromas de frutas vermelhas e delicados toques de baunilha e chocolate, conferidos pela maturação em madeira. “Acho que a mistura é perfeita para um aperitivo de Fiestas Patrias no Chile, enquanto a gente espera o churrasco ficar pronto”, termina.
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Raquel Telias: prietas
Outra referência quando se trata de encontrar lugares novos ou de fazer controle de qualidade com muito humor é a jornalista da área de gastronomia Raquel Telias. Assim, entre risadas, ela confessa: “Sou fascinada pelo dracupán.” “O que é isso?!”, eu pergunto. E ela acrescenta: “Ao invés do choripán (pão com linguiça comum), que eu também adoro, gosto de pão com prieta (embutido chileno à base de sangue coagulado de porco).”
E ela continua com as dicas: “Eu gosto das prietas do Don Lolo, em Casablanca, porque são enormes, gigantes, muito suaves, cremosas, a cebola é um pouco grande, mas ainda assim são cremosíssimas. Esse açougue é especialista em porco então o arrollado de cerdo (carne de porco recheada, como um rocambole) deles também é muito bom. As outras prietas que me fascinam são as da salsicharia La Unión, em Talca. Adoro a expressão do embutido, do trabalho com o porco para além de um prato preparado.”
Ela diz que o dracupán, especificamente, ela gosta com marraqueta (pão chileno) e com pebre (molho similar ao vinagrete brasileiro, à base de tomate, cebola, coentro e pimenta chilena picados) bem fresquinho.” E para harmonizar? “Sou de tintos leves, então se estiver calor eu gosto de um vinho País geladinho ou de um rosé. Mas principalmente pensando nas Fiestas Patrias, eu gosto com o Terrunyo Carménère.”
Você pode ouvir Raquel Telias às terças-feiras no programa Un País Generoso, da rádio Rock & Pop, e também na rádio USACH, ou seguir sua conta do Instagram @raqueltelias.