Há algum tempo falamos sobre os decantadores quando respondemos à pergunta: “Por que o vinho precisa respirar?”. Entretanto, às vezes, esse temido objeto não serve somente para incorporar oxigênio.
Decantar nada mais é do que o ato de passar o vinho da garrafa para outro recipiente mais amplo. O objetivo é que o vinho entre em contato com o oxigênio e, se for o caso, separá-lo de sedimentos sólidos que possam ter se desenvolvido na garrafa.
Embora existam aqueles que argumentam que todo vinho se beneficia do processo, o certo é que nem todos precisam decantar. É mais provável que não seja necessário para vinhos brancos ou tintos jovens, pois os sedimentos costumam aparecer em vinhos tintos com o passar do tempo. Além disso, vinhos jovens não são tão complexos para necessitar a “ajuda” do ar para se expressarem. Embora possam sim ser mais tânicos, basta alguns giros na taça e já está resolvido.
São os vinhos finos com longo período de maturação os que costumam passar por um decantador antes de chegar até a taça, como é o caso do extraordinário Carménère Carmín de Peumo 2018.
Para retirar sedimentos
Com o passar dos anos, pode ocorrer a formação de sedimentos sólidos nos vinhos tintos. É um processo absolutamente normal que não causa nenhum dano ao vinho nem significa que esteja em más condições. É o resultado dos processos de oxidação ou redução que ocorrem em alguns vinhos, que se expressa na forma de partículas sólidas que se precipitam no fundo da garrafa ou também de pequenos cristais gerados após a união de moléculas de açúcar do vinho.
Se ingerimos essas partículas, podemos ter uma sensação um pouco amarga, de adstringência ou incômoda no paladar. Além de, por certo, “afetar” esteticamente o vinho: muitas pessoas simplesmente não gostam de ver estes resíduos na sua taça.
Esse teria sido o principal motivo pelo qual o decantador foi criado nos tempos da alquimia. Em seguida, a enologia moderna inventou métodos para clarificar o vinho que tornaram o uso do decantador para a retirada de sedimentos uma raridade. Não é esse o caso dos vinhos naturais, que devido a sua baixa ou nula intervenção, não costumam passar pelo processo de filtração ou de clarificação.
Para oxigenar o vinho
O segundo e principal motivo pelo qual se utiliza o decantador é para aerar o vinho. Uma vez mais, existem aqueles que argumentam que quanto maior o tempo de contato do vinho com o oxigênio, mais difusos serão seus aromas e sabores. No entanto, existem situações nas quais podemos nos deparar com aromas desagradáveis ao abrir uma garrafa, os chamados “aromas de redução” gerados quando o vinho está confinado por muito tempo na garrafa ou em condições excessivamente herméticas. Nesse caso, o decantador desempenha um papel essencial: ajuda o vinho a entrar em contato com o ar, dissipando os odores e fazendo com que os verdadeiros aromas venham à tona.
Essa ação é recomendada especialmente para vinhos da variedade Syrah, como o Marques de Casa Concha Syrah, pois permite apreciar melhor seus sabores complexos de cereja, mirtilo e alcaçuz.
Além disso, a decantação auxilia vinhos robustos que estavam guardados por muito tempo a liberarem seus aromas. Por sua vez, no caso de vinhos tintos jovens, ajuda a equilibrar a acidez e taninos, já que quando gases como o CO2 são liberados, a sensação que temos é de que o vinho é menos tânico.
Como fazer
Os modelos de decantadores são todos diferentes, uma vez que constituem uma peça de design que os enófilos guardam com certo orgulho. No entanto, além da estética, a maioria possui uma base larga de grande superfície para que os sedimentos se depositem no fundo e um pescoço muito mais estreito.
Na hora de decantar um vinho, pegue a garrafa e deixe-a em posição vertical na mesa, de preferência um dia antes. Em seguida, sem movimentar muito a garrafa, retire a cápsula para abri-la. Em um lugar iluminado, despeje o vinho lentamente no decantador até que visualize os sedimentos no pescoço da garrafa. Espere alguns minutos e já está pronto para ser servido. Saúde!